ENTREVISTA COM IAFA BRITZ

Produtora e fundadora da Migdal Filmes, Iafa Britz, é responsável por sucessos de bilheteria como ‘Se Eu Fosse Você’ e ‘Nosso Lar’

Texto: Eduardo Torelli
Imagens: Divulgação / Paprika Fotografia

A trajetória de Iafa Britz, fundadora da produtora Migdal Filmes, se confunde com a própria história recente do audiovisual brasileiro. Iafa atua neste segmento desde os anos 1990 e foi responsável pela produção de mais de 20 longas (incluindo os muito bem-sucedidos Minha Mãe é Uma Peça e Nosso Lar). Ela também ajudou a trazer à luz os campeões de bilheteria Se Eu Fosse Você (partes 1 e 2), Divã e Sexo, Amor e Traição e produziu documentários como O Homem que Engarrafava Nuvens (lançado em 2009 e dirigido por Lírio Ferreira), além de ser autora do livro “Film Business: o Negócio do Cinema”, focado no mercado audiovisual.

Desde a fundação da Migdal, em 2010, ela desenvolveu parcerias com canais de TV por assinatura que geraram atrações como As Canalhas (no GNT) e 220 Volts (Multishow), além de sucessos como De Volta Pra Pista, Música.doc e Paulo Gustavo na Estrada. Dentre os êxitos mais recentes da Migdal, destacam-se o documentário Cássia e a cinebiografia Irmã Dulce. Nesta entrevista à Zoom Magazine, Iafa relembra os passos da produtora e oferece uma visão ampla e empreendedora do mercado de produção brasileiro.

Quando foi criada a migdal filmes? O foco da produtora sempre foi a realização de conteúdos diversificados para cinema e tv?

A Migdal começou bem mais focada na realização de filmes. Mas, em seguida, começamos a produção de séries como 220 Volts, com Paulo Gustavo (para o Multishow), e rapidamente surgiram outras demandas do mercado. Então, nos reestruturamos para atender a essas janelas distintas: cinema e TV. Hoje, não podemos nem nos restringir a apenas estes dois nichos, não? O mercado está totalmente diversificado e, apesar da Migdal ter um “DNA cinematográfico” muito forte, a TV está ocupando um espaço cada vez maior, assim como outras plataformas.

Qual é a infraestrutura da produtora? Vocês possuem estúdio próprio? Ou é mais vantajoso terceirizar esses itens, assim como os equipamentos de captação e edição?

Temos um departamento de desenvolvimento, outro de pós-produção e uma parte de produção – mas tudo muito enxuto. Acreditamos muito em um modelo de abrir frentes de acordo com a demanda de cada produção. Por conta disso, não temos estúdio e preferimos terceirizar esse serviço. Investimos muito na parte de desenvolvimento e conteúdo. Temos câmeras, ilhas de edição, o básico para realizar alguns dos programas de TV que costumamos fazer, mas não somos uma produtora de equipamentos.

Onde fica a produtora? E quantas pessoas ela emprega, atualmente (direta e indiretamente)?

A produtora fica no Shopping Downtown, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), e ocupa dois espaços. Um serve mais como escritório: é onde ficam as pessoas. E o outro é o local onde acontecem as edições. Trabalham diretamente no escritório 12 pessoas e, dependendo do porte da produção, às vezes, chegamos a contratar até 150/200 pessoas terceirizadas.

Vocês desenvolvem projetos muito complexos (tanto em se tratando de longas como de títulos para a tv). Como é administrado o fluxo desses trabalhos dentro da produtora? Equipes diferentes se incumbem de cada um ou há uma logística que permite a flexibilização dos técnicos e criativos, para que possam atuar em mais de um projeto ao mesmo tempo?

Temos uma equipe fixa que atua em todos os projetos. Trata-se de um sistema interno, no qual todo mundo sabe a sua parte em cada produção, de forma que todas as informações circulem e sejam armazenadas, desde o lado burocrático até o marketing. É importante que a equipe tenha conhecimento geral e esteja informada sobre todos os produtos que estamos desenvolvendo.

Qual o segredo para se fazer um filme de sucesso no brasil? Por que demorou tanto tempo até que nosso cinema conseguisse cativar o público, obtendo receitas milionárias (como as de Nosso Lar ou Minha Mãe é Uma Peça)?
Creio que não exista segredo, até porque não existe uma fórmula. Nunca sabemos se uma produção dará certo ou não. E essas receitas milionárias são compartilhadas em muitas partes (exibidores, distribuidores, produtores, muitos sócios, etc.). Sim, talvez tenhamos um diálogo cada vez melhor com a demanda do público e, talvez, estejamos atingindo uma qualidade maior com o nosso cinema… No entanto, estamos enfrentando um período de altos e baixos. Alguns anos são melhores e outros, piores – e isso nos mostra que precisamos melhorar muito esse diálogo com o público. É preciso saber melhor o que o público está buscando, o que é uma coisa muito instável para todos nós.

Na tv ou no cinema, o humor é um elemento imperativo para se obter bom público no brasil? Em caso afirmativo, por quê?
O humor talvez seja, hoje, o conteúdo menos arriscado para se produzir. Em termos de cinema, talvez seja aquele com maior comunicação com o público, o que ele está mais acostumado a digerir, mais a fim de assistir. Mas não podemos nos acomodar, pois o público se cansa muito rápido. Temos que apresentar sempre novas tendências, propostas e ideias – trazer o novo, sempre o novo, inclusive, dentro da própria comédia.

Como veem o segmento de web? Acreditam na força e no futuro deste nicho? Ou o enxergam mais como uma ferramenta para a divulgação de projetos realizados para o cinema e a tv?
A Internet é fundamental para a divulgação e, também, uma janela de distribuição muito importante. Precisamos, cada vez mais, entender como ela funciona e investir nosso tempo para trabalhar com ela.

Um dos projetos mais recentes da produtora, Irmã Dulce, pertence a um gênero que também parece apetecer o espectador brasileiro: o das cinebiografias. É muito trabalhoso realizar um filme assim, levando em conta que é preciso se ater aos fatos e, ainda assim, dialogar com o ficcional?

Sim, é muito difícil realizar uma cinebiografia. Por vários fatores. Temos a dificuldade de fazer um filme que não seja “chapa branca”, mas, ao mesmo tempo, abordar o tema de forma respeitosa. Há dificuldades na realização, pois, normalmente, as cinebiografias são projetos grandiosos. E também não sabemos se são projetos que irão ou não agradar ao público. Se tais filmes serão ou não produtos de consumo. Dá trabalho, mas acho que, se é uma história em que você acredita, vale a pena.

 

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