STAR WARS OU GUERRA NAS ESTRELAS?

Com efeitos revolucionários para a época, trilogia original da famosa saga de ficção científica de George Lucas foi um estrondoso sucesso

Texto: Ricardo Bruini
Imagens: Divulgação

Em meados de 1977, Star Wars estreou despretensiosamente e se tornou, em pouco tempo, uma das apostas mais bem-sucedidas da indústria cinematográfica. Seu criador, George Lucas, na época um cineasta independente novato, assumiu o risco de mudar os padrões vigentes entre produtores e estúdios de cinema e decidiu levar o filme às salas de exibição mantendo para si os direitos de merchandising da obra (afinal, o estúdio não acreditava que o filme fosse dar lucro ou ser um sucesso). A partir daí, uma nova era teve início na indústria cinematográfica americana. Os grandes estúdios, que até então eram donos absolutos dos direitos sobre as obras, passaram a ter que aceitar que produtores e criadores tivessem autonomia sobre seus filmes e produtos correlatos.

Com o sucesso e o dinheiro ganho, Lucas pode abrir sua própria empresa (Lucas Film) e, de quebra, inaugurou uma gigante no segmento dos efeitos especiais, a Industrial Light & Magic. Foi uma aposta e tanto – e que deu muito certo! Em uma única tacada, Lucas conseguiu um dos filmes de maior sucesso da história do cinema, fundou a Lucas Film e a ILM. Nada mau para um projeto no qual quase ninguém acreditava!

Durante a faculdade, George Lucas conheceu Francis Ford Coppola (diretor de O Poderoso Chefão), que o incentivava a fazer curtas-metragens. Ao terminar os estudos, Lucas foi estagiário na Warner Brothers onde, com a ajuda de Coppola, conseguiu assinar um contrato para transformar um de seus curtas em um longa-metragem. O resultado não agradou a diretoria da Warner, que exigiu o dinheiro de volta. Apesar do fracasso de sua primeira empreitada, Lucas conseguiu emplacar, logo em seguida, uma comédia ambientada nos anos 1950, Loucuras de Verão.

Com ânimo e prestígio revigorados, o diretor apresentou o projeto de um filme de ficção científica, Star Wars. Na época, filmes do gênero eram abominados pelos estúdios, que os consideravam ultrapassados e pouco lucrativos. Warner, Universal e Fox recusaram o projeto. Entretanto, a Fox voltou atrás após a intervenção de Alan Ladd Jr, chefe de recursos criativos da empresa. Ladd achou a abordagem do projeto interessante e julgou que poderia dar certo, apesar de ser uma aposta de alto risco. Mesmo com a intervenção de Ladd, a Fox pouco se interessou pela lucratividade do filme, e concordou em liberar apenas US$ 8 milhões e deixar Lucas como proprietário dos direitos de merchandising e de uma possível sequência.

Apesar de inúmeros contratempos e empecilhos, do “estouro” do orçamento e de maquiagens, “fantasias” e recortes nada convincentes, as cenas de batalha no espaço e as lutas com sabre de luz garantiram o sucesso da obra. O público queria saber como as batalhas tinham sido feitas. Em apenas cinco semanas de exibição, o investimento já havia sido recuperado – e, de quebra, o filme teve dez indicações ao Oscar.

Em outra grande “sacada”, Lucas lançara, seis meses antes, um livro com a história do filme, o que fez os leitores ficarem curiosos em ver o resultado nas telonas. Mais de 500 mil cópias foram vendidas, gerando grande expectativa e uma excelente divulgação espontânea.

Com o que foi arrecadado em Guerra nas Estrelas, Lucas pode, enfim, planejar uma sequência (O Império Contra-Ataca) sem qualquer intervenção da Fox. O terceiro episódio (O Retorno de Jedi) serviu para coroar uma franquia de sucesso e altíssima rentabilidade. A indústria de cinema de entretenimento nunca mais seria a mesma depois disso, pois, agora, Lucas era um dos cineastas mais respeitados do mundo e ditava o rumo de seus próprios negócios – caminho que também viria a ser trilhado por vários outros cineastas.

Em 2012, George Lucas vendeu a Lucas Film para a The Walt Disney Company pelo valor de US$ 4 bilhões.

Quase artesanal

Quem assiste aos três filmes da primeira trilogia de Star Wars tem dificuldades em aceitar que todos aqueles efeitos foram feitos quase que “na unha”, sem nenhuma tecnologia de computação gráfica (inexistente na época) e praticamente de forma artesanal. Tudo bem, algumas máscaras de personagens e certos recortes de chroma não convencem muito, mas as cenas de batalhas e os duelos com sabre de luz obtiveram um excelente resultado para a época, especialmente em O Império Contra-Ataca, quando houve mais dinheiro, tempo e know-how para a realização dos efeitos – particularmente, considero esse segundo filme o mais equilibrado e bem executado da primeira trilogia.

A superfície da “Estrela da Morte” era, na verdade, uma imensa maquete montada do lado de fora dos galpões dos estúdios. Movendo a câmera lentamente sobre a maquete e acelerando-se o resultado por meio da utilização de uma baixa taxa de quadros por segundo, era possível simular o ponto de vista das naves se esgueirando pelas valas e estrias. Um sistema especialmente desenvolvido permitia que a câmera executasse um movimento preciso, bem próximo da superfície, enfatizando a ideia de velozes rasantes. O mesmo princípio era aplicado às naves espaciais, que pareciam enormes devido à perspectiva com que eram filmadas. Para tomadas mais aberta, uma “Estrela da Morte” com um metro de diâmetro garantia a interação com os demais elementos da cena e pequenas naves.

E nada de explosões digitais feitas no computador! Era tudo na base da pólvora, mesmo!

Os pequenos “ewoks” nada mais eram que anões dentro de pesadas e quentes fantasias. Até elefantes chegaram a ser fantasiados como criaturas estranhas para interagir com os atores de forma minimamente realista. Foram feitos alguns testes que utilizavam um macaco-prego fantasiado para “interpretar” o personagem Mestre Yoda, mas, no fim, o resultado não agradou e preferiram utilizar bonecos mecanicamente animados. Personagens como o gosmento Jabba eram controlados por várias operadores ao mesmo tempo, cada um responsável por movimentar uma parte do asqueroso corpo alienígena.

Os assustadores walkers eram animados em stop-motion, quadro a quadro, em um processo delicado e extremamente demorado. Maquetes de naves espaciais presas a fios pareciam flutuar em frente ao espaço sideral. Em 1997, a trilogia original foi relançada, já com os subtítulos (episódios IV, V e VI), remasterizada e com alguns efeitos visuais refeitos digitalmente (como, por exemplo, as aparições de Jabba). Mas, as cenas refeitas fogem demais à concepção original, parecendo não fazer parte do filme. Sinceramente, prefiro os efeitos originais, por mais toscos que sejam.