Filme de Alex Carvalho representou o Brasil no Festival de Veneza
Salamandra estreou na competição da Semana da Crítica do Festival Internacional de Cinema de Veneza de 2021
Totalmente rodado no Recife e coproduzido pelo Canal Brasil e Telecine, Salamandra – o primeiro filme do diretor Alex Carvalho – estreou na competição da Semana da Crítica do Festival Internacional de Cinema de Veneza. Com quatro exibições no evento, a obra é protagonizada pela francesa Marina Föis, que vive a personagem Catherine, e Maicon Rodrigues, no papel de Gilberto.
Depois de passar anos cuidando do pai, Catherine se sente sufocada pelo contraste entre seus sentimentos e a sua realidade. Ela, então, foge para o Brasil esperando se reconectar com a irmã. Finalmente mais livre, mas ainda incapaz de superar sua ansiedade, a protagonista entra em uma relação com Gilberto, que representa uma segunda oportunidade de experimentar a vida que ela podia ter vivido.
“Estou encantado com a oportunidade de lançar meu longa de estreia em um dos festivais mais antigos e respeitados do cinema autoral”, comemora Alex. “A relação entre Catherine e Gilberto me parece necessária em tempos de tanta instabilidade e falta de compreensão. Passada em minha cidade natal, a fábula joga com a tensão do legado colonial e a mistura entre culturas. A experiência de Catherine pode ser extrema em sua violência e irrevogabilidade, mas, em seu cerne, estão questões de identidade que muitos acharão desconfortavelmente familiares.”
Temas eternos
O filme convida o espectador a refletir sobre temas eternos. Por exemplo: quantas vidas existem dentro de uma existência? O ressignificar, dar chance ao novo e mergulhar no desconhecido, muitas vezes, pode abrir novas portas e levar a experiências que nunca imaginamos ter, depois de tantos anos vivendo dentro de padrões pré-estipulados. Romper essas barreiras internas e externas porém, exige que lidemos com as consequências de nossas escolhas, que podem não ser tão agradáveis quanto os caminhos trilhados.
O enredo do filme se baseia no romance do médico e escritor francês Jean-Christophe Rufin, que foi adido cultural do Consulado Geral da França em Recife entre os anos de 1989 e 1990. Na trama, a protagonista Catherine se vê às voltas com questionamentos emocionais e busca experimentar a vida no Brasil. Ao conhecer Gil, ela se vê em uma relação improvável.
Rufin afirmou se sentir honrado tanto com a adaptação da obra para o cinema como em relação à qualidade da produção. “Estou extremamente feliz com a adaptação do meu romance”, celebrou o autor. “Parabéns, da minha parte ao Alex e a toda equipe. A performance de Marina é excepcional e a estética do filme e sua escrita são fortes e comoventes.”
Com barreiras culturais e linguísticas, o Salamandra nos faz questionar o quanto somos, de fato, escutados e compreendidos quando nos comunicamos. Nessa relação entre uma francesa de meia-idade e um brasileiro de vinte e poucos anos, que têm dificuldade para se entenderem mutuamente, o sentimento e os pilares são construídos por meio dos gestos e detalhes, mais do que palavras.
“Valor estético”
Alex Carvalho também assina o roteiro da produção, junto com Thomas Bidegain, Alix Delaporte, Rita Toledo e Nelson Caldas Filho. O time criativo inclui, ainda, a fotógrafa canadense Josée Deshaies, a montadora Joana Collier e a diretora de arte Juliana Lobo. Nomes como os de Bruno Garcia (De Pernas pro Ar), Allan Souza Lima (da novela Órfãos da Terra) e Anna Mouglalis (Mamute) completam o elenco.
O comitê de seleção do Festival de Veneza, representado por Beatrice Fiorentino, afirmou que Salamandra “é um filme de indiscutível valor estético, um olhar ousado e pouco convencional sobre a dinâmica de um casal que experimenta o desejo contra todas as regras do bom senso”. Ainda segundo o comitê, a história apaixonante de Catherine e Gil oferece uma chave essencial para compreender o retrato feminino da memória truffautiana.