Documentário premiado aborda construção de embarcações artesanais no Brasil, em risco de extinção
Documentário inédito no SescTV, Feito Torto Pra Ficar Direito (2015, Brasil), dirigido por Bhig Villas Bôas, viaja por diversas regiões do País, principalmente por Norte e Nordeste, para mostrar como são feitos barcos artesanais, uma atividade tradicional que pode deixar de existir em pouco tempo. A produção – que venceu como Melhor Filme na 5ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental em 2016, em São Paulo/SP – tem estreia agendada para 14 de junho, às 23h, e pode ser assistida em no link sesctv.org.br/aovivo.
Em Feito Torto Pra Ficar Direito, mestres da carpintaria naval, navegadores, modelistas náuticos, pescadores, arquitetos, engenheiros e pesquisadores falam sobre a importância da construção de embarcações artesanais no Brasil, abordando ainda as técnicas utilizadas nesse processo, as dificuldades enfrentadas e as influências indígenas em seus feitios. Na maioria das vezes, essas embarcações são o principal instrumento de trabalho e meio de transporte para diversas famílias.
Na cidade de Cururupu – MA, o carpinteiro naval José da Paixão Pereira, o mestre Belo, explica como se faz uma embarcação tradicional, começando pela espinha dorsal, que é reta, com todo o restante torto. Pedro Alcântara, experiente mestre naval, esclarece: “o barco é torto pra ficar direito na água”.
Escola da vida
Nenhum dos mestres dessa arte fez qualquer curso. Todos eles aprenderam na prática. “É fabuloso o conhecimento que têm das propriedades hidrodinâmicas de cada casco, em cada região”, diz o navegador Almyr Klink. Para ele, as particularidades individuais de cada casco é um método que a maioria dos engenheiros navais não tem intelecto para compreender. Klink ressalta que, só depois de muitos anos, a construção náutica acadêmica incorporou as características desses modelos simples em barcos modernos.
Dalmo Vieira Filho, arquiteto e idealizador do projeto Barcos do Brasil, comenta que as embarcações artesanais tiveram suas origens em diversos continentes, e o patrimônio naval brasileiro é um dos mais significativos no mundo. Ele rememora a visita do último imperador do Brasil à cidade de Penedo, em Alagoas. “O que chamou a atenção de Dom Pedro II foi a exuberância e o número de barcos a vela que cruzavam a paisagem do rio São Francisco, conhecido como rio da integração nacional, em frente à Penedo”, conta Vieira Filho.
Luiz Philipe Andrés, engenheiro e diretor do Estaleiro Escola do Maranhão, fala sobre os barcos com velas tingidas de vermelho, característicos do Pará e do Maranhão Trata-se de uma tradição indígena, que mistura resina do mangue com sumo de bananeira, que protege o tecido. Dentre essas embarcações, está a canoa costeira de proa chata, única com este desenho no mundo. O modelista naval Luiz Lauro Pereira Jr. diz que com este formato de proa, a canoa fica mais veloz e estável sobre as ondas.
O documentário Feito Torto Pra Ficar Direito aborda, ainda, a biana, a canoa de risco, as primitivas jangadas, o bote bastardo e a canoa de tolda. Esta última, assegura Carlos Eduardo Ribeiro Jr., da Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco, traz aspectos gerais da navegação portuguesa.
Sobre o SescTV
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