Em exposição, fotógrafo retrata o drama dos refugiados no Brasil
Mostra fotográfica Acolhidos reúne imagens registradas pelo jornalista Antonello Veneri, que há doze anos escolheu o Brasil como seu lar
Fotógrafo e jornalista, o italiano Antonello Veneri escolheu o Brasil como seu lar há doze anos. E desde então, vem usando suas lentes para retratar o cotidiano de pessoas que buscam um espaço ou um recomeço de vida. Parte desses trabalhos pode ser conferida na exposição Acolhidos: o percurso da Venezuela à integração no Brasil, que expõe a realidade de refugiados que também escolheram nosso país como morada.
O evento acontece em São Paulo (SP), no edifício Banco do Brasil (Avenida Paulista, 1230, Torre Matarazzo), até o dia 26 de junho. Por meio de 120 fotos, o público tem uma ideia de como é a vida de quem foge de crises, conflitos e desamparo, deixando para trás familiares, casa e trabalho. “A fotografia documental faz sentido se é voltada ao encontro com o outro”, afirma Veneri. “Desde criança, sempre gostei de conhecer pessoas e histórias especiais, que tivessem algo de vibrante. A profissão de fotógrafo e jornalista proporciona isso. Assim como de contar, através das imagens, a nossa interpretação do mundo.”
População imigrante
A realização do projeto fotográfico Acolhidos levou o jornalista a viajar por mais de 16 mil km, entre Santa Helena de Uiarén, na Venezuela, passando por Roraima, Distrito Federal, Santa Catarina e Salvador. “Passei dos 35 graus, de Boa Vista, ao menos um grau, de Santa Catarina”, prossegue Veneri. “Em cada lugar encontrei, conversei e fotografei centenas de pessoas. Tudo isso no ano passado, em plena emergência da Covid-19, mas quando penso nos desafios que esta população migrante enfrentou, vejo que a minha viagem não foi tão complicada.”
Além das fotos, a exposição contempla um espaço educativo e a apresentação de vídeos com depoimentos do fotógrafo e de agentes de campo que realizam trabalho humanitário nos centros de acolhida gerenciados pela AVSI Brasil e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), em Boa Vista. No mês dedicado aos refugiados, quando se comemora o Dia Mundial do Refugiado, no dia 20, a mostra lança luz para um tema delicado e atual, por conta da guerra que assola a Ucrânia e mobiliza países e organizações que há anos atuam em zonas de conflitos levando comida, remédios, entre outras necessidades.
O nome da exposição é inspirado no projeto social Acolhidos por Meio do Trabalho, implementado pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com recursos financiados pelo Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do governo dos EUA. A edição de São Paulo tem o patrocínio do ACNUR e da Fundação Bernard van Leer (FBvL), além de apoio institucional do Consulado da Itália no Brasil, Organização Internacional para as Migrações (OIM), Rede Brasil do Pacto Global, e da Casa Civil da Presidência da República, que coordena as ações da força-tarefa Operação Acolhida.
Histórias emocionantes
Enquanto produzia as imagens que compõem a mostra, Veneri tomou conhecimento de histórias emocionantes, como a de Yoskarly, jovem grávida que o fotógrafo encontrou na fronteira, e depois, em um abrigo de Roraima. “Me considero um ouvidor profissional, então passo muito tempo escutando histórias”, diz o jornalista. “Me tocaram especialmente as histórias dos idosos que tiveram que deixar a própria casa, o próprio país. Todas as histórias são diferentes, mas, em cada uma, sempre tem algo parecido. Dor e saudade, mas também uma forte esperança.”
Por meio das fotos, Veneri narra histórias para quem estiver disposto a escutá-las e vê-las. Mas o fotógrafo não se considera um artista. “Li uma entrevista da atriz Tilda Swinton em que diz ‘que mais do que homo-sapiens somos homo-narrans’”, observa ele. “Adorei. Somos homens-narrantes. Se formos pensar, a narração atravessa a história do homem, das antigas mitologias até as novelas. O ser humano, especialmente durante a infância, adora ouvir histórias. Talvez o papel da arte e da fotografia seja de manter viva a curiosidade que recebemos de presente quando nascemos.
”Recentemente, o tema “refugiados” ganhou força em razão da Guerra na Ucrânia. Mas essa é uma questão de foro muito mais amplo e que repercute em todo o mundo. “Li um artigo no qual o ACNUR estima que, em 2022, pela primeira vez, o número total de pessoas forçadas a fugir da própria casa, vai ultrapassar a marca dos 100 milhões no mundo”, conclui Veneri. “Um número impressionante. Imagine se metade da população brasileira fosse obrigada a abandonar a própria casa. Tem a Ucrânia, tem a Venezuela, mas também a Myanmar, o Burkina Faso, a Nigéria, o Afeganistão ou a República do Congo”.