CRIATIVIDADE EM CENA
Por: Eduardo Torelli
Fotos Adilson Marques/Divulgação
Em primeira mão! Estamos antecipando uma das reportagens que você encontrará na edição 190 de Zoom Magazine. A publicação completa estará disponível aqui no site e nas plataformas digitais (IOS e Android) dentro de mais alguns dias. Não perca!
Ritmo, luzes, movimentos: um mestre do minimalismo cênico, o filmmaker e fotógrafo Rafael Kent não precisa de muito mais do que esses três ingredientes para compor uma obra-prima audiovisual. Ele é famoso por seu amor à narrativa e por sua notável capacidade de criar no próprio set, dispensando fórmulas ou esquemas de produção muito engessados. O resultado são narrativas de forte plasticidade e que “fluem” na tela, sendo, um bom exemplo, o novo clipe da banda NX Zero, Fração de Segundo, que pode ser conferido no YouTube.
Desde sempre, música e imagens fascinaram o diretor – que, em criança, admirava as fotos que ilustravam a enciclopédia “Barsa” e que, depois, mergulhou na cena musical de Salvador, como produtor de bandas. Na seara dos clipes, portanto, Rafael está “em casa”. Mas o que distingue um autêntico criativo é a vontade constante de inovar e se aprimorar, o que nos leva à curiosa história por trás da produção de Fração de Segundo.
NARRATIVA
O diretor recorda que o primeiro convite para realizar um clipe do NX Zero surgiu no ano passado, assim que Rafael retornou de uma viagem de três meses pelos EUA. “Mas, na época, eu estava sem tempo e com a cabeça em outro lugar”, lembra. “Gosto de basear meus trabalhos em uma narrativa e tentei elaborar uma para outra música deles, ‘Pedra Murano’, mas acabou não rolando. Passado um tempo, eles voltaram a me ligar, agora, com a proposta de um clipe para ‘Fração de Segundo’. E dessa vez, o projeto aconteceu.”
Uma primeira ideia (posteriormente abandonada) foi a de produzir um curta-metragem inspirado na música, que seria rodado em Los Angeles (EUA). Mas o fator “tempo” acabou pesando: a música já estava tocando nas rádios, o que exigia um modelo de produção mais tradicional. Foi então que o baixista da banda, Conrado Grandino, sugeriu a ideia de um clipe com dança.
“Achei a proposta interessante, mas queria uma narrativa a mais, já que muitos clipes utilizaram a dança como elemento principal”, prossegue Kent. “Decidi que precisaríamos de uma locação bem legal, já que a minha proposta para o clipe era o minimalismo, que caracteriza o meu trabalho. Acabei conseguindo, com Geraldo Neto, da APPA (Associação Paulista dos Amigos da Arte), uma oportunidade de filmar nas instalações do Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo. O lugar tinha tudo a ver com a proposta da dança e ainda proporcionava uma atmosfera cênica interessante.”
COREOGRAFIA CAPRICHADA
Ainda segundo o realizador, a locação escolhida permitiu que o clipe tivesse duas ambientações. “Uma das salas do teatro, menor e mais escura, nos permitiu ilustrar o momento mais caótico de uma relação amorosa que está prestes a acabar”, explica Kent. “Já outro ambiente, maior, simbolizou o momento em que nos libertamos de uma relação e partimos para uma nova etapa da vida. Esta ideia era o cerne do clipe.”
Era preciso, também, contar com uma coreografia caprichada para que a ideia se materializasse a contento na tela. Conrado Grandino sugeriu o nome da bailarina Fernanda Fiúza. “Ela criou uma coreografia ‘matadora’ e ainda selecionou as três bailarinas que aparecem no filme, Ariany Damaso, Bárbara Guerra e Glória Candemil”, diz Kent. “Boa parte do sucesso do clipe pode ser creditada a ela, já que a dança foi fundamental neste projeto.” A realização propriamente dita aconteceu em dois dias, sendo um deles inteiramente dedicado aos ensaios. O diretor elogia o “pique” dos integrantes do NX Zero, que, como ele, têm uma veia criativa independente. “O clima no set não poderia ter sido mais produtivo e harmonioso”, diz.
CÂMERA NA MÃO
O iluminador da banda, Renato Rodrigues, controlou as luzes durante as filmagens. A equipe ainda contou com os esforços de Felipe Bolha (que chegou a operar um drone dentro do teatro), Claudio Alvim e Adilson Marques (assistentes de câmera). “Gosto de trabalhar com pouca gente”, ressalta Kent. “Por uma questão de grana e, também, porque isso torna o processo mais fluido.”
Mas ninguém se desdobrou tanto na realização do projeto quanto o próprio Kent, que produziu, dirigiu, fotografou, editou e coloriu o clipe. As imagens foram captadas com duas Sony Alpha a7SII (Kent é embaixador dessa linha de câmeras), que não decepcionaram durante as gravações. “São câmeras maravilhosas”, garante o diretor. “Venho utilizando-as há dois anos em meus projetos e as considero muito versáteis, além de entregarem uma imagem excelente.”
Em uma diária de doze horas, foram feitas paradas pontuais para a troca de lentes ou a captação de close-ups – mas a coreografia ditou o ritmo das filmagens. “Minha escola é do ‘pegar a câmera e fazer’”, define Kent. “É bem incomum eu filmar com um roteiro físico na mão. Está quase sempre tudo em minha cabeça. Uma vez no set, faço minhas ideias acontecerem. É no set que vejo e sinto para onde devo ir.”
A edição é sempre uma etapa crucial em se tratando de projetos audiovisuais – mas, nos clipes, ela tem uma relevância ainda maior, pois esse tipo de projeto não costuma contar com recursos largamente empregados em curtas e longas-metragens, como a inserção de efeitos especiais. O filme Fração de Segundo, por exemplo, dispensou qualquer artifício do gênero – os únicos “efeitos” são as luzes e a fumaça que embelezam os takes do clipe e que são parte de sua linguagem.
“Eu mesmo editei o clipe no Premiére, me guiando pelas danças, que norteavam toda a narrativa”, conclui Kent. “Eu sempre edito, mas as vezes é melhor jogar a toalha, às vezes, me apego demais ao trabalho e preciso de uma visão mais distanciada para a montagem – mas, por definição, gosto de editar meus filmes. Fiquei muito feliz com o resultado. Visualmente, é uma produção muito bonita.”
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